terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Te quiero, te odio

buenossabado 005

2011 está chegando e aquela sensação que a minha vida nova já não é tão nova assim também. Não tem muito o que discutir, não dá muito pra falar de readaptar. Es lo que hay.

Já não moro em Buenos Aires e por mais que eu faça piada dizendo que de lá só sinto saudade das cuecas da Falabella, a verdade é bem outra. Sinto saudades demais de lá.

Foi e ainda é uma relação de amor e ódio. Amor por poder caminhar sem destino na Av. de Mayo num dia de sol, apreciando os cafés, as pessoas e o céu sempre azul que está até na bandeira argentina. E ódio por ver essa mesma avenida bloqueada por manifestantes tantas vezes.

Amor por poder tomar um vinho ótimo e pagar tão barato. Ódio por ter que ficar na fila do Coto por vários minutos, perder a paciência total com toda a raça de caixas num lugar que não sabe o que é tratar bem um cliente.

Amor por comer bem quase que diariamente, em lugares baratos e bons. Ódio por ver seu dinheiro encolher pela metade quando viajava pro Brasil.

Amor pela vida que os argentinos vivem tão plenamente. Ódio por nunca ter conseguido ver um futuro a longo prazo para mim naquele país.

Amor por conhecer tanta gente diferente, de várias partes do mundo. Ódio por ter que repetir aquele mesmo blablablá de que eu era do Brasil, de Curitiba, que aqui não tinha carnaval e que as mulheres brasileiras não são todas putas.

Amor amor amor por viver numa cidade linda, que a cada esquina me tirava o ar de tanta por tanta beleza na arquitetura e história. Ódio por só ter férias de 15 dias e viver tão longe dos parentes e amigos brasileiros.

Ainda fui para lá várias vezes esse ano e sinto que agora vai demorar bastante para voltar. Não sei porque. Apenas sinto.

Já andava pensando bastante nisso tudo, mas hoje li o que a Laura (amiga dos meus primeiros anos por lá) escreveu e achei perfeito. No texto ela fala com muito mais propriedade desse amor e ódio que alguém que voltou sente. Não paga pau descaradamente pela cidade, mas também não é só crítica. Leia aqui "Amando e Odiando Buenos Aires".

Me lembrei bastante daquela música do Ira! que dizia "Te odeio, isso é o amor".

6 comentários:

claudemir disse...

Se juntar os dois textos e musicar vira um tango heim? Minha relação com a cidade não foi tão duradoura quanto a de vocês então ainda sinto mais amor do que ódio, mas também acho que vai demorar pra voltar lá.

Mari Eller disse...

estranho esses vínculos que formamos com alguns lugares, que parecem ser tão intrigantes como os laços que criamos com pessoas...

Laura disse...

Ha! As malditas férias de 15 dias! Acho que foi o motivo número 2 da minha volta...rsrsrs
Pois é, eu tb, qdo cheguei de Ezeiza no centro pensei: "Não volto aqui tão cedo". No segundo dia já pensava em uma futura temporada de uns 3 meses. Lugar desgraçado esse, né?

Leo Vinhas disse...

Me sinto quase assim, não necessariamente por Buenos Aires, mas por Foz, embora o amor seja perceptivelmente maior que o ódio. Aliás, não odeio Foz - só acho que já fiz o que tinha que fazer por lá.

Grande texto, o seu. Vou ler o da guria agora.

André Takeda disse...

Mas depois de 5 anos na firma, tu já tem direito a 21 dias. :) Fiquei superocupado nas duas últimas semanas em um projeto que era a tua cara. Senti tua falta por aqui! Abraço.

Silvia W disse...

Tulio, faz uns bons 6 meses que não visito seu blog, mas acho que essa relação de amor e ódio de certa forma te alimenta, não? Não é o mesmo sentimento que você tem por Curitiba, cidade que não consegue deixar? (Teu texto continua ótimo, feliz 2011!)

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